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terça-feira, 6 de abril de 2010

Contos e Lendas da África

A Cabeça Falante

O rapaz estava indo da vila para a floresta. Era um excelente caçador e, enquanto farejava a posição do vento para decidir de que lado entraria na mata, ia imaginando as carnes que traria, as iguarias que suas esposas iriam preparar e os convidados que receberia para os banquetes.
De repente, ao passar por baixo de uma farroba, teve a impressão de ver e ouvir algo se mexendo. Do chão, o som de alguma coisa rolando. Ao redor, galhos e folhas balançando como se respondessem a um chamado.
O homem olhou rapidamente para todos os lados. Já estava disposto a acre¬ditar que não era nada, quando, sem querer, chutou um objeto no chão. Imediatamente ouviu um som de... dor. Podia quase afirmar ter ouvido um lamento:
— Ai! — teria feito o estranho objeto.
O homem abaixou-se e procurou no meio das folhas e dos pequenos frutos que se espalhavam em volta da árvore. Arregalou os olhos quando encontrou uma cabeça. Para ser mais exato, tinha sido uma cabeça outrora, agora... era só uma caveira.
Entre correr e averiguar, o homem disse:
— Como é que isso veio parar aqui?
Era uma cabeça humana... humana até demais! E para aliviar a curiosi¬dade do caçador, ela mesma lhe respondeu:
— Foi a língua que me trouxe para este lugar! E ela que vai levar você longe!
Agora o caçador tinha com que se preocupar: uma caveira falante e um enigma para desvendar. O melhor que conseguiu fazer foi correr. Depois, enquanto pensava no acontecido, riu. Riu alto e, para seu próprio consolo, desistiu de caçar, já que o lugar lhe parecia assombrado. E, então, voltou para a aldeia correndo, para dar a notícia.
Conta daqui, reconta dali, o chefe da tribo mandou chamar o caçador assim que soube do fato e repetiu, em voz alta, a mesma pergunta que já tinha feito a seus homens:
— E verdade essa história de caveira que fala?
O caçador confirmou tudo. Encheu de detalhes a sua história, para pa¬recer mais importante aos olhos alheios, e garantiu ao chefe que sabia o lugar exato onde poderia encontrá-la, se estivessem dispostos a acompanhá-lo.
O chefe, para manter a ordem e o poder na tribo, decidiu, ainda que um pouco incrédulo:
— Vou mandar meus homens com você... Mostre a eles a cabeça-falan-te e depois tragam-na para mim. Se não for verdade, sua própria cabeça há de rolar!
O caçador estava tão seguro do que tinha visto e ouvido na mata, que nem titubeou. E como saiu na frente, também não ouviu as ordens sussurra¬das ao pé do ouvido dos guardas:
— Se for tudo mentira, cortem a cabeça dele lá mesmo!
E lá foi o caçador de volta para a mata, conduzindo depressa os guardas do chefe até o local. Algumas outras pessoas seguiam o grupo de perto, para verem também, com seus próprios olhos, o tal crânio falador. Mal chegaram ao pé da árvore, o homem dirigiu-se à caveira, que estava bem ali embaixo:
— Caveira, diga-nos... como foi que você veio parar aqui?!
O homem ficou em suspenso: nos lábios, metade de um sorriso, no rosto, olhos bem abertos. Nenhuma resposta. Achou que tinha falado muito baixo e repetiu a pergunta, quase gritando:
— E então, dona caveira, me diga, como veio parar aqui?
Agora não restava dúvida, fora claro o bastante! Mas a caveira não deu J e vida! Os guardas do chefe começaram a se olhar e já iam tirando ti- raças, quando o homem falou de novo, agora em tom de quem implora, c:r. pouco mais compassado:
— Por favor... caveira, diga-me... diga-nos, como veio parar neste lugar? A resposta continuou sendo o silêncio. Para os guardas, não restava dú-de que o homem tinha mentido. Eles então levantaram suas facas e im a cabeça do caçador desligar-se do resto do corpo, com uma rapidez nressionante e ao som cortante do metal...
Limparam suas facas no tronco da árvore e se foram, levando o corpo. Não havia mais sinal de ninguém por perto, quando a caveira virou-se a cabeça do caçador, que tinha ficado ali, bem próxima a ela, e disse:
— Eu não disse que a língua tinha me trazido para cá?! Ela sempre leva ;e quem fala demais!
E a noite tinha mesmo acabado de cair na mata, para cobrir para sem-de escuridão, os olhos do caçador.

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